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Esquerda direita frança

Os termos “esquerda”, “direita” e “centro”,  como referenciais do espectro político e ideológico, surgiram durante o período da Convenção na Revolução Francesa. Foram criados a partir do lugar em que cada facção política se assentava na assembleia.

A discussão se ainda há uma esquerda e uma direita já foi de muito superada. Aliás, a negativa da díade tornou-se um marcador que identifica quem é da direita envergonhada. E há, possivelmente, algumas pessoas à esquerda que em determinados ambientes sintam-se mais confortáveis escondendo sua ideologia no fundo do armário (um “disfarce” para sobreviver).

O articulista Marcos Villas-Bôas, no artigo “Da esquerda à direita nas crenças humanas“, publicado no Luis Nassif On Line, indagou o seguinte: – Por que dura há tantos anos essa polarização surgida na Revolução Francesa?

Na verdade, diferentemente da assertiva de Marcos Villas-Bôas, as diferenças entre esquerda e direita começaram bem antes da revolução burguesa em França (1789). Inegavelmente, os termos tem origem naqueles acontecimentos históricos, que enterraram o ancien régime. Mas as luta entre esquerda e direita, entre o “partido do movimento” e o “partido da ordem”, são datadas de tempos imemoriais. Afinal, a luta de classes não é de hoje, nem surgiu com a formação social e econômica capitalista…

Cogitar Atenas, na Grécia Antiga, como uma referência histórica, não é um grave erro.

Quando a política e os partidos (parte da sociedade representada por um grupo) foram se construindo, simultaneamente, num processo dialético, surgiram as ideologias (à esquerda e à direita). Aqui trato de “partido” como um grupo de pessoas que se associam na defesa de interesses materiais/econômicos (e imateriais) de uma determinada classe (ou de mais de uma classe), cuja luta é justificada e organizada sob um conjunto mais ou menos coerente de ideias (e interesses). Não cogito, ainda, em partido como atualmente conhecemos, organizado sob a forma de uma pessoa jurídica (os primeiros partidos assim constituídos foram Whig e o Tory, na Inglaterra do séc. XVIII).

Note-se que as disputas políticas no período histórico em agito, na Grécia Antiga, aproximadamente 600 a.C., giravam em torno da posse da terra. Com o crescimento da população e aumento da demanda de alimentos, a repartição da riqueza socialmente produzida foi posta de lado, abrindo espaço para a acumulação e o aprofundamento das desigualdades sociais. Com isso, as terras mais férteis forma objeto de feroz disputa.

A sociedade ateniense, à época, era constituída pelas seguintes classes sociais: eupátridas (“bem-nascidos”), aristocracia rural proprietária das terras férteis; os georgóis (“agricultores”), pequenos proprietários rurais, que trabalhavam com seus familiares e produziam para a subsistência, dispunham das terras inférteis, sendo que muitos deles foram reduzidos à condição de servos e de escravos; os demiurgos, artesãos que viviam do próprio trabalho e do comércio marítimo no litoral, com situação de pouco conforto financeiro; e os thetas (“marginais”), trabalhadores braçais, camponeses, explorados economicamente, sem posses e sem direitos políticos. Havia ainda os metecos, estamento formado por estrangeiros, geralmente comerciantes, que não tinham direitos políticos. Na base da pirâmide, os escravos (vale sinalar que a formação social e econômica à época era a escravagista).

Dentro desse quadro socioeconômico, esquerda e direita ateniense, enquanto contrapontos políticos e ideológicos (ainda que sem o emprego dessas nomenclaturas), já são identificadas pela atuação de três partidos: [1] à esquerda, o partido das montanhas, que defendia os georgóis e thetas; [2] à direita, o partido das planícies, formado pelos eupátridas; [3] e ao centro, o partido do litoral, representando pelos demiurgos (a base da pirâmide, os escravos, estravam completamente à margem).

Portanto, a díade esquerda e direita é bem anterior à Revolução Francesa e ao capitalismo.

E coube à esquerda, desde a gênese, como “partido do movimento”, a tarefa de fazer o contraponto à ordem estabelecida, à organização social por estamentos, à concentração de riquezas e rendas e às desigualdades.

Aqui no Brasil, a esquerda sofreu duro revés com a deposição da presidenta Dilma e o encarceramento de Lula. A “ordem” de acumulação está prevalecendo sobre o “movimento” de inclusão social, as riquezas nacionais voltaram a ser saqueadas pelas elites internacionais, como a cumplicidade da burguesia tupiniquim, num novo ciclo de acumulação, estratégia para salvar o capitalismo de mais uma grave crise.

 Mas sigamos na luta, vamos por a roda do mundo para girar!

#LulaLivre #FreeLula

Um comentário sobre “A esquerda do “movimento” e a direita da “ordem”

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