Segundo Anita Nowak, professora na Universidade McGill, pela empatia reconhecemos que todos compartilhamos uma humanidade comum e que somos dignos. Diz ela que a empatia é o único o sentimento capaz de afirmar a igualdade entre os seres humanos.
Mas o que se vê na formação social e econômica capitalista é que o cidadão pequeno burguês e o burguês, via de regra, não consegue ampliar qualquer sentimento de empatia para além dos seus familiares mais próximos, de modo que não se reconhece no resto da humanidade, vista tão somente como um meio para atingir seus fins egoísticos, tudo sob o discurso ideológico da meritocracia e da competição.
Segundo Nowak, “estamos diante de um conjunto de crises sociais e ambientais sem precedentes”, sendo que na esfera da produção “uma em cada seis pessoas passa fome”. Conclui a professora que o homem somente irá sobreviver como sociedade e, inclusive, como espécie, se realizar a uma revolução de empática. Passar a se sentir gente e gostar de gente! Olhar para o rosto das outras pessoas e nele se reconhecer!
A hegemonia eleitoral e política do bolsonarismo, que se consolidou na carona do antipetismo, talvez seja um indicativo de quão longe estamos, pelo menos aqui no Brasil, da revolução de empatia preconizada por Anita Nowak. Quase a totalidade de ações e manifestações do futuro governo Bolsonaro não estimulam empatia, não dão qualquer contribuição civilizatória, não agregam valores humanitários e não estimulam um mísero sentimento democrático.
O episódio mais recente que revela a crise de empatia aqui debatida (principalmente dos brancos aquinhoados em relação aos negros, indígenas e pobres em geral) é a comemoração efusiva pelo fim da participação cubana no programa bem sucedido da ex-Presidenta Dilma Rousseff, o “Mais Médicos”.
Em nome de um pseudo-humanismo – libertar “médicos escravizados”, que até ontem eram rotulados como profissionais incompetentes e quiçá guerrilheiros –, bolsonaristas bradaram nas últimas horas sua euforia pelo feito daquele que intitulam de “mito”. Sim, retirar mais de oito mil e quinhentos médicos “comunistas” dos brasileiros pobres e que moram nos confins do país, foi para estas pessoas um grande gesto de Bolsonaro.
Sequer o apelo e mobilização de secretários municipais de saúde e prefeitos, protestando contra os arroubos de Bolsonaro, que causou a interrupção da cooperação técnica entre a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o governo de Cuba, e pedindo que fossem mantidos os cerca de 8,5 mil profissionais cubanos no programa “Mais Médicos”, a fim de evitar que 29 milhões de brasileiros, em mais de 3.200 municípios, fiquem desassistidos da atenção básica de saúde, foi suficiente para produzir qualquer tipo de empatia com os deserdados.
Notem: estamos falando de saúde pública, de prevenção, de salvar vidas humanas ou de desperdiçá-las!
O que é desesperador: o pior está por vir!