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NOTAS SOBRE POLÍTICA E CIDADANIA

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Estranho momento esse em que vivemos. Fantoches do grande capital financeiro são alçados à condição de heróis da nação, caso do Juiz Moro. Políticos neoliberais recebem enxurrada de votos, caso do playboy João Dória Junior, em São Paulo. E Lula, mair líder popular do planeta é preso político.

Por isso, na contramaré, convém relembrar pessoas que efetivamente lutaram pelo povo brasileiro. Dedicaram-se, com sacrifício pessoal, às causas de inclusão social, mas tristemente são negligenciadas pela memória nacional.

Uma dessas personalidades é Francisco Julião Arruda de Paiva, o Julião. A trajetória de Julião tem lugar cativo na História, até pela sua relação com as Ligas Camponesas.  Filho de Senhor de Engenho, abandonou a casa-grande e colocou-se como parceiro dos deserdados na terra.

Julião, nascido em 16FEV1915 no Engenho Boa Esperança, no agreste pernambucano, foi advogado, escritor, músico, parlamentar (deputado estadual e federal) e pai. Advogava, por opção, para prostitutas e para mulheres que ficavam sem nada após se separarem de seus maridos.

Militou no Partido Republicano (PR) e, a partir de 1947, cerrou fileiras no Partido Socialista Brasileiro (PSB), sendo o primeiro parlamentar estadual eleito pela legenda socialista.

Durante o seu exílio no México, após ter mandato cassado pela ditadura civil-militar, ele escreveu sua obra mais qualificada, “Cambão: a cara oculta do Brasil” (1968), apresentando o funcionamento da sociedade agrícola nordestina.

Julião foi pai de seis filhos: Moema, Anatailde, Anatilde, Anatólio, Anacleto e Isabela. A caçula foi homenageada no livro “Até Quarta, Isabela” (1965), escrito por Julião no cárcere, em restos de papel que teve acesso.

Anistiado, Julião volta para o Brasil e grava, com Francisco Mário, o LP “Julião: verso e viola”. No disco, há três longos poemas em forma de cordel, com letras políticas. Obviamente que a censura não permitiu o seguimento do projeto.

Agora em 2018, as Ligas Camponesas completariam 63 anos. Surgiram no Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão, em 1º de janeiro de 1955, e foram extintas logo após o golpe militar de março de 1964.

O envolvimento de Julião com as lutas camponesas deu-se a partir de 1948, quando foi contratado para realizar a defesa jurídica dos membros da Sociedade Agrícola e Pecuária de Pernambuco (SAPP). A SAPP foi possivelmente a primeira associação camponesa de Pernambuco, formada por ocupantes do Engenho da Galileia. Da SAPP surgiram as ligas camponesas.

Em 1959, Julião, atuando como causídico, obteve importante vitória judicial, resguardando a posse das terras do Engenho da Galileia para os seus ocupantes, o que lhe conferiu projeção nacional (e ódio do conservadorismo). O episódio do Engenho da Galileia é histórico porque foi a primeira desapropriação de terras no Brasil após a 2ª Guerra Mundial!

Mais adiante, Julião logrou reconhecimento internacional, isso em 1960, quando o jornal The New York Times veiculou diversas matérias sobre o problema de concentração de terras no nordeste e apresentou o Julião como o principal líder da luta do campesinato brasileiro.

Segundo o biógrafo de Julião, o escritor Cláudio Aguiar, a fama do defensor dos camponeses brasileiros preocupava a Casa Branca. Em 1962, o governador do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves, em encontro com John Kennedy, para tratar da Aliança para o Progresso, programa criado pelos EUA com o objetivo de estancar suposta expansão do comunismo na América Latina, foi designado para relatar “o movimento de Julião”.

Sobre Julião deve ser dito, ainda, que em determinado momento ele foi completamente isolado pela esquerda brasileira por conta da posição por ele assumida em 1963. Julião pediu aos seus simpatizantes que se abstivessem de votar no plebiscito convocado por Jango para a permanência do parlamentarista ou o retorno do presidencialismo. Claro que a esquerda queria o presidencialismo para Jango poder governar e não perdoou Julião por ficar “sobre o muro”.

Diga-se que Julião não simpatizava com o Governo de Jango e chegou a defender, em 1963, diante de Fidel Castro, que estavam dadas as “condições necessárias para uma revolução” no Brasil, abrindo assim divergência com Luiz Carlos Prestes (ver clicando aqui telegrama da Embaixada brasileira em Havana).

Com o golpe civil-militar de 1964, Julião teve o mandato parlamentar cassado e foi covardemente preso e, depois, foi exilado.

Julião morreu em julho de 1999.

Suplico aos professores de História: exponham aos seus alunos a vida e luta de \Julião e das ligas camponesas.

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