Se Gleisi Hoffmann disse efetivamente o que lhe atribuem (Ciro não passa no PT nem com reza brava), não foi lá muito feliz. Mas importa cogitar sobre o contexto.
Notem, contudo, que Ciro Gomes também tem agido em relação ao PT como se fosse um elefante andando sobre cristais. Na verdade, o pedetista está delimitando espaços…
Se Ciro Gomes quer construiu a unidade da centro-esquerda em torno de seu nome (e para tanto precisa contar com o PT, isso na hipótese de inviabilização da candidatura Lula) , a pretensão exige que ela atue como um agregador, não um incendiário. Cabe ao interessado fazer as honras da casa…
Na minha leitura, Ciro pretendente o apoio do PT, mas mantendo certa distância. Comporta-se como aquele sujeito que tem vergonha de sair em público com a namorada pelo medo do que os outros (o mercado, no caso) irão pensar.
Ciro sonha com o PT como se deseja um “crush”. Não pretende construir uma relação mais sólida, no máximo quer “ficar”. Até porque o novo trabalhista está de olho no apoio do arqui-inimigo do PT, o tucanato.
Não estou aqui demonizando Ciro, somente descrevendo sua estratégia e suas táticas. Ele quer construir uma hegemonia sem o PMDB (e sem a influência petista, mas com s). Calcula que precisa do PSDB. O PT, aliás, fez algo semelhante, com sinal invertido, quando buscou o PMDB para ser vice de Dilma (triste lembrança).
Ocorre que o PT, em que pese os infortúnios, ainda tem muita bala na agulha, possui base social sólida. Por isso, quem abraçar o PT terá de aceitá-lo por inteiro, não somente reivindicar a “cereja do bolo”, os votos que lhe são destinados nas urnas.
Ciro não parece disposto a dividir poder com o PT. Quer construir uma hegemonia plena, sem depender do petismo. O lugar do PT, no limite, é na aba do chapéu do Ciro, segundo seu planejamento.
Por isso a resposta da presidenta do PT, ainda que possa parecer inconveniente. Mas é um recado.
Repiso. Não é meu objeto desconstituir a candidatura do Ciro Gomes ou afirmar que ela não pode aglutinar a centro-esquerda e esquerda em determinada circunstância. Se Ciro for ao segundo turno e enfrentar um representante da direita, não terei qualquer dificuldade em votar nele.
De qualquer sorte, Lula é candidato, ainda que no cárcere, na condição de preso político. Sou solidário ao Lula, não há como abandoná-lo agora.
E se Lula não for candidato – e o PT não construir uma candidatura própria -, como militante petista vou defender o apoio do partido a Boulos ou a Manu. Ciro vem depois. O critério de preferência de apoio: a proximidade com os valores da esquerda.