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NOTAS SOBRE POLÍTICA E CIDADANIA

Foto de Marcelo Camargo

Tenho profunda admiração pela Maria do Rosário. Enfrentar o senso comum e o preconceito em defesa dos direitos de todos humanos requer uma imensa coragem. Sim, porque não se está somente defrontando preconceitos e ideias conservadoras, mas a própria violência de um sistema que concentra poder e renda ao custo de moedura de carne humana. Sistema que se estende e se articula com o submundo.

Maria do Rosário chama a atenção, no artigo que disponibilizo mais abaixo, para a atuação das milícias e sobre as forças políticas que as acolhem.

As milícias não caíram do céu, não são produto de geração espontânea. Esses grupos paramilitares, que atuam à margem da lei, violando cotidianamente os direitos humanos, são o resultado de uma concepção distorcida de segurança pública (a “justiça” pelo submundo).

Os grupos milicianos, integrados por agentes do Estado (policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e militares, ativos ou inativos), nasceram sob a justificativa de combater o tráfico de drogas! Mas na verdade, praticam crimes, extorquindo a população na área que atuam (a famosa taxa de proteção). Os “negócios” são variados, passando pela exploração clandestina de gás, televisão a cabo, máquinas caça-níqueis, agiotagem, ágio sobre venda de imóveis, dentre outros ilícitos. Sem falar na prática de torturas e assassinatos. Fábrica de dinheiro sujo, que depois é lavado e fica limpinho e cheiroso (aroma de laranjeira, dizem).

Os milicianos, em sua grande maioria, são agentes do Estado. Mas não só isso: são protegidos pelos braços do Estado. Tem políticos que os resguardam! Aliás, muitos milicianos se tornam políticos!

E que partidos abrigam os milicianos? Certos partidos de direita!

O clã Bolsonaro, por exemplo, adotou a máxima seguindo a qual “a esquerda defende bandido”. Fake news, a realidade é outra. Não são poucos os registros apontando que Bolsonaro e seu filho primogênito defenderam – e até mesmo homenagearam – vários milicianos!

E agora, a Maria do Rosário!

QUEM AFINAL DEFENDE BANDIDOS?

Por Maria do Rosário*

A experiência política realizada por gerações retrocede muito tempos com os Bolsos no poder. Em vinte e poucos dias de governo, dá pra ver uma espécie de família da casa grande, que é contra pobres, negros, índios e mulheres. A família destes senhores quer beneficiar seus iguais com o livre uso de armas, para que fiquem com terras que nem são suas. Mas quem se importa se elas foram dos índios? E quem se importa com o que diz a Constituição sobre direitos indígenas? Isso não conta na era “Bolsos”.

Em 1989 os eleitores que votaram em Collor como “O Caçador de Marajás”, descobriram que ele era o próprio, sentado no elefante não apenas de um mísero Fiat Elba, mas do esquema corrupto de PC Farias. Isso demorou dois anos e cinco meses.

Não demorou todo este tempo para que graves escândalos pululem deste governo. Com Bolso está sendo rápido. Quando achávamos que era o Queiroz com seus milhões em depósitos e mortes marcadas no cabo do revólver, muito mais coisa aparece. Enquanto lê-se que Queiroz samba na cabeça do eleitorado de Flávio e do chefe que deu nome ao clã, outra linha de investigação esbofeteia os ingênuos. E aí? O Brasil gigante acordou? Não. Pra não ter visto quem eles são antes das eleições, as pessoas estiveram em uma espécie de transe sobre muitas coisas.

Mas os novos fatos impressionam até mesmo quem sabia da falta de caráter de uns e outros que foram citados nos últimos dias. Vamos aos fatos: menos de um mês após a posse presidencial, a investigação de um esquema de Flávio Bolsonaro, senador eleito, membro da cúpula do governo e como os demais herdeiros, um deslumbrado com o acesso ao poder, aponta o envolvimento do Clã Bolsonaro com uma organização criminosa conhecida como “Escritório do Crime”. A ligação é comprovada com homenagens rendidas por Flávio, em seu mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, aos dois principais alvos da operação “Os Intocáveis”, suspeitos de envolvimento no covarde assassinato da vereadora do Psol, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes.

Dizer que o envolvimento desse clã com milícias, assassinos e policiais corruptos não era algo que se tinha ideia, é falso. Mas nem nos piores pesadelos, onde a criatividade do horror se multiplica, a proximidade com pessoas ligadas de alguma forma à execução de Marielle, nos veio à mente. Sim, PMs que assassinaram a Juíza Patricia Acioly foram defendidos a época pelo clã. Sim, eles defendem a prática da tortura e estupro contra esquerdistas, feministas, comunistas, como na ditadura, e berram que querem “metralhar petistas”. E sim, seu discurso institui ódio contra defensores de direitos humanos. Mas estarem vinculados pessoalmente, de alguma forma, aos assassinos de Marielle? Isto dá um fim a todos. Quem vai defendê-los? Quem não admitirá que caiu na maior lorota do mundo? Os que diziam “bandido bom é bandido morto” entre olhares diziam, “menos os nossos, menos nós!”. E quem afinal defende bandidos?

Não era Marielle, não é Freixo, Jean Wyllys, não sou eu. Defendemos o Estado de Direito e a Lei. E eles?

Eles foram muito além de quebrarem as placas. Quebraram a cara de todos os que de boa fé (porque existiram) lhes deram seu voto. Agora os eleitores que votaram em Bolsonaro como “Caçador de Bandidos”, estão atônitos e pensam sobre quem ele é realmente. Outros não se importaram com a identidade desde sempre revelada, do propagador do ódio contra mulheres, negros, índios, gays e estrangeiros, talvez porque acreditassem no mito. Os que acreditavam no “mito” descobriram que a palavra não é adequada: está mais próxima de uma simples fábula.

A moral desta fábula? Se traduz na dica básica e primária da internet: não espalhe ou acredite em fake news. Você acabará contribuindo para dar poder ao sobrenome da corrupção e do crime. Aliás, ele não é Silva. Silva é o sobrenome de sofrer injustiça. O sobrenome que o Coaf identificou é Bolso-Queiroz.

Por Marielle, Anderson e todas as vítimas

*Maria do Rosário é deputada federal (PT-RS)

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